Descoberta será registrada pelo Iphan e deve chamar ainda mais a atenção de estudiosos que buscam novas descobertas históricas na região
A Caatinga alagoana é esconderijo de diversos sítios arqueológicos e nesta terça-feira (5), a Equipe Comunidades Tradicionais da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do Rio São Francisco descobriu novas pinturas rupestres, ainda não catalogadas, na comunidade Sítio Flamengo, na zona rural da cidade de Maravilha, no Sertão do estado.
A arqueóloga Rute Barbosa, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), explicou que o órgão não tinha conhecimento desse sítio arqueológico, e chamou a atenção a imagem do que parece uma estrela e, além da cor vermelha, as pinturas rupestres também foram desenhadas com material da cor branca.
“A partir de agora o Iphan deve realizar cadastro desse sítio para que ele esteja resguardado legalmente. Vamos realizar análises e ver quais os fatores de impacto e como poderemos atuar para minimizá-los. Há interesse do município de Maravilha em socializar essa descoberta mas, antes disso acontecer, vamos avaliar quais os danos que essas visitas poderiam causar a esse patrimônio histórico, para que depois esteja acessível a toda comunidade de Maravilha, Alagoas e do Brasil”, explicou a arqueóloga.
Rute Barbosa explicou ainda que o local onde estão as pinturas aparentemente servia de abrigo no tempo pré-colonial.
“O Iphan precisa de mais tempo para fazer suas interpretações em torno do sítio descoberto hoje e, quem sabe um dia, também realizar escavações para ter dados mais concisos sobre o período pré-colonial e, inclusive, encontrar utensílios, ferramentas e outros materiais da época”, disse a arqueóloga.
O coordenador do Museu Paleontológico de Maravilha, Márcio Adriano, acompanhou a equipe da FPI e falou sobre a importância da descoberta para a cidade.
“Maravilha já é muito conhecida pela paleontologia e a descoberta desse sítio arqueológico é muito importante para as universidades, para os estudos acadêmicos, e para que nossos jovens se interessem cada vez mais pela História e pela Ciência. Quem sabe não teremos novos arqueólogos, que irão estudar e compreender como viviam os habitantes do passado na nossa região?”, indagou.
O antropólogo do Ministério Público Federal (MPF) e coordenador da equipe Comunidades Tradicionais, Ivan Farias, reforçou a importância da FPI do São Francisco em proteger os patrimônios da Bacia do São Francisco.
“A Equipe Comunidades Tradicionais não participa desde o início da FPI, mas veio para ficar, porque tem mostrado que cuidando das comunidades, estamos protegendo o Rio São Francisco. Eu me orgulho quando encontramos algo novo, como esse sítio arqueológico, porque a partir dessa descoberta, faremos com que o Iphan e outros órgãos responsáveis protejam a História para as gerações”, disse.
Coordenador da FPI, o promotor do Ministério Público do Estado (MPE), Alberto Fonseca, destacou a importância da descoberta do novo sítio arqueológico em Maravilha.
“É o descobrimento do Brasil, dos primeiros brasileiros. Pelo que a arqueóloga Rute Barbosa explicou, essas pinturas rupestres foram feitas há mais de dez mil anos e essa descoberta é o resgate da nossa história e, com certeza, refletirá nas futuras gerações. Não podemos entender o presente e tentar construir o futuro se não conhecermos o passado. E esse passado é importante para a construção dos povos da Bacia do São Francisco”, enfatizou o promotor.
Morador do Sítio Flamengo, o agricultor Jackson Gomes dos Santos, de 28 anos, foi quem guiou a equipe da FPI do São Francisco até as pinturas rupestres. Ele contou que junto de seu primo, encontrou as imagens e já desconfiava que se tratava de algo pré-histórico.
“Quando vimos, sabíamos que não deveríamos danificar. Eu queria ter ligado para a Ufal [Universidade Federal de Alagoas], mas eu não tinha o número de lá e aqui é muito longe da cidade. Agora estão todas essas pessoas aqui, que trabalham com a preservação dessas pinturas, então sinto que deu tudo certo”, disse o morador da zona rural de Maravilha.
A Constituição Federal e Lei n. 3.924/61 protegem os sítios arqueológicos no país. A destruição ou retirada de qualquer material ou remoção de terra do local constitui crime sujeito a pena de multa e detenção. Para o Iphan, a melhor forma de preservar o patrimônio histórico e cultural dos sítios arqueológicos é contar com o apoio da comunidade.
A ação da FPI contou ainda com equipes da Secretaria de Estado da Mulher e Direitos Humanos (SEMUDH), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Rede Mulher de Comunidades Tradicionais, INCRA, CBHSF, Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e Batalhão de Polícia Ambiental (BPA).
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